Uma Morada de Deus…
A liturgia do VI Domingo da Páscoa apresenta o final do discurso da despedida…Cristo confirma sua presença na sua Igreja, enviando o Espírito Santo: “Ele Vos ensinará e recordará tudo o que vos tenho dito” (Jo 14, 23-29). A presença corporal de Jesus é substituída por uma presença espiritual interior, prometida a todos aqueles que O amam: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada” (Jo 14,23). Jesus já não vive, como homem, entre os homens, mas, como Filho de Deus, põe a sua morada na alma dos seus fiéis; e não Ele somente, mas também o Pai e o Espírito Santo, em união indissolúvel. Santo Agostinho comenta: “Deus, Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, vêm a nós quando nós vamos a Eles; vêm a nós socorrendo-nos, vamos a Eles obedecendo; vêm a nós iluminando-nos, vamos a Eles contemplando-Os; vêm enchendo-nos da Sua presença, vamos a Eles acolhendo-Os”. A presença da Santíssima Trindade na alma é o dom supremo de que Cristo nos mereceu com a sua morte e ressurreição e oferece a todos aqueles que correspondem ao seu amor, ouvindo e cumprindo fielmente a sua palavra: “…faremos nele a nossa MORADA” (Jo 14,23). Isto nos faz pensar na grandeza da vida de Deus em nós: a Graça. São Pedro muito bem expressou a riqueza da graça, ao dizer: “somos participantes da natureza divina” (2 Pd 1,4). Somos morada de Deus! A convicção desta verdade nos levará a fugir das ocasiões de pecado para não se expor a perder tão valioso tesouro. São Paulo completa com a célebre indagação que fez aos Coríntios: “Não sabeis que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós? (1Cor 3,16).
Os grandes santos, a exemplo de Santa Catarina de Sena, se recolhiam sempre em si mesmos para conversar com Deus e manifestar uma adoração sincera. Esta Santa chamava de “cela” o santuário interior onde está Deus. Santa Teresa entrava inúmeras vezes “no castelo interior” para adorar profundamente As Três Pessoas Divinas.
Podemos expressar o louvor à Trindade, durante o dia, mesmo trabalhando, quando dizemos o Gloria ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.
Que alegria saber que a Santíssima Trindade habita em nossa pobreza.
Jesus nos diz: “Deixo-vos a paz …” (Jo 14,27).
A paz é, precisamente, o dom que Jesus deixou aos seus discípulos depois de lhes ter garantido a presença da Santíssima Trindade nos seu corações e a assistência do Espírito Santo. É a paz alicerçada nas boas relações com Deus, no cumprimento da Sua palavra, na comunhão íntima com Ele; a paz de quem se deixa conduzir pelo Espírito Santo e trabalha à luz da Sua inspiração. Paz não isenta do sofrimento neste mundo, mas que infunde coragem para enfrentar também a luta quando é necessária para ser fiel a Deus. Paz que será completa e sem qualquer sombra de perturbação na Jerusalém Celeste onde Cristo, “o Cordeiro”, será a luz que iluminará (Ap. 21,23) e o gozo que alegrará, para sempre, os eleitos.
Disse Jesus: “Vou mas voltarei a vós’ (Jo 14,28). A volta a que Jesus se refere inclui a sua segunda vinda no fim do mundo ( cf. 1Cor 4,5; 11,26; 1 Jo 2, 28) e o encontro com cada alma quando se separar do corpo. A nossa morte será precisamente o encontro com Cristo, a quem procuramos servir nesta vida e que nos levará à plenitude da glória. Será o encontro com Aquele com quem falamos na nossa oração, com quem dialogamos tantas vezes ao longo do dia.
Do trato habitual com Jesus Cristo nasce o desejo de nos encontrarmos com Ele. A fé lima muitas das asperezas da morte. O amor ao Senhor muda completamente o sentido desse momento final que chegará para todos. Dizia São Josémaria Escrivá: “Os que se amam procuram ver-se. Os enamorados só têm olhos para o seu amor. Não é lógico que seja assim? O coração humano sente esses imperativos. Eu mentiria se negasse que me move tanto a ânsia de contemplar a face de Jesus Cristo. Procurarei Senhor, o teu rosto.”
O pensamento do Céu, agora que estamos próximos da festa da Ascensão, deve levar-nos a uma luta decidida e alegre por tirar os obstáculos que se interpõem entre nós e Cristo, deve estimular-nos a procurar sobre tudo os bens que perduram e a não desejar a todo o custo as consolações que acabam.
Pensar no Céu dá uma grande serenidade. Nada aqui na terra é irreparável, nada é definitivo, todos os erros podem ser retificados. O único fracasso definitivo seria não acertarmos com a porta que conduz à Vida.
Hoje no Dia da Mães queremos lembrar a Mãe Santíssima de Jesus e nossa que se tornou morada do Filho de Deus, e aquelas que, por seu amor, também têm morada em nossos corações: nossas Mães. A elas a nossa gratidão e prece.
Pároco: Pe. Alessandro Almeida Colen
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