Pai – Cruz – Alegria
No IV Domingo da Quaresma, a primeira leitura (Js 5,9-12) apresenta o povo eleito que, após uma prolongada purificação realizada durante quarenta anos de peregrinação pelo deserto, entra finalmente na terra prometida e nela celebra jubilosamente a primeira Páscoa. Deus perdoou as suas infidelidades e mantém firmes as suas promessas entregando a Israel uma pátria em que poderá erguer-Lhe um templo.
Na segunda leitura (2Cor. 5,17-21) S.Paulo diz que “o era antigo passou, tudo agora é novo” (2Cor. 5,17). A grande novidade é a Páscoa Cristã que supera a antiga, a Páscoa em que Cristo foi imolado para reconciliar os homens com Deus. Não é já o sangue de um cordeiro que salva os homens, nem o ritual da circuncisão ou a oferta dos frutos da terra que os tornam agradáveis a Deus; é o próprio Deus que, pessoalmente, se compromete na salvação da humanidade, entregando o Seu Filho Único. Só Deus podia tomar esta iniciativa, só o Seu amor a podia inspirar, só a Sua misericórdia era capaz de a realizar. Cristo inocente substitui o homem pecador.
Mais uma vez a Quaresma convida-nos à contemplação da misericórdia divina revelada no mistério pascal, pelo qual o homem se torna criatura nova liberta do pecado, reconciliada com Deus, de regresso à casa do Pai.
No Evangelho (Lc. 15, 1-3.11-32) temos a parábola de filho pródigo, que abandona a casa paterna, exigindo a parte da fortuna que lhe corresponde a fim de viver independente e livre… Viu-se escravo das paixões, convertendo-se em desprezível guarda de porcos. Os remorsos da consciência, eco da voz de Deus, estão na origem do seu regresso. Deus é o Pai que espera pacientemente os filhos que o abandonaram e incita-os ao regresso…
E quando os vê regressar pelo caminho do arrependimento, corre ao seu encontro para acelerar a reconciliação, para lhes oferecer o beijo do perdão, para lhes fazer uma grande festa. Nesta festa devem participar também os filhos que ficaram em casa, fieis aos seus deveres, mas certamente mais por costume do que por amor e, por conseguinte, incapazes de compreender o amor do pai para com os irmãos, em alegria e partilha amorosa.
O filho mais velho é tão pecador ou mais do que o filho mais novo, por ter-se esquecido de que tudo o que era do pai também era seu. A bondade do pai envolvia a ambos.
O filho mais velho não quis acolher o outro como irmão. Diz ao pai: “Este teu filho”. O pai insiste:”Este teu irmão”. Esta era a atitude dos fariseus e escribas que se consideravam perfeitos: “jamais transgredi um só dos teus mandamentos”.
Importa reconhecer que tudo é dom de Deus. O fato de uma pessoa viver cristãmente, fazendo o bem, não pode levá-la a excluir a ninguém. È convidada a participar da festa da bondade de Deus.O IV Domingo da Quaresma é conhecido por Domingo Laetare (da alegria). A Igreja quer recordar-nos assim que a alegria é perfeitamente compatível com a mortificação e a dor. O que se opõe à alegria é a tristeza, não a penitência.
A mortificação que procuramos viver nestes dias não deve ofuscar a nossa alegria interior, mas, pelo contrário, deve fazê-la crescer, porque está prestes a realizar-se essa loucura de amor pelos homens que é a Paixão, e é iminente o júbilo da Páscoa.
“Como se sabe, diz o Papa Paulo VI, existem diversos graus de “felicidade” no sentido estrito da palavra, quando o homem, no nível das suas faculdades superiores, encontra a sua satisfação na posse de um bem conhecido e amado… Com muito mais razão chega ele a conhecer a alegria e a felicidade espiritual quando seu espírito entra na posse de Deus, conhecido e amado com bem supremo e imutável “. E o Papa continua: “A sociedade técnica conseguiu multiplicar as ocasiões de prazer, mas é-lhe muito difícil gerar a alegria, pois a alegria provém de outra fonte: é espiritual. Muitas vezes, não faltam, com efeito, o dinheiro, o conforto, a higiene e a segurança material; apesar disso, o tédio, o mau humor e a tristeza continuam infelizmente a ser a sorte de muitos”.
A alegria surge de um coração que se sente amado por Deus e que, por sua vez, ama com loucura o Senhor. Para amarmos o Senhor com obras, Ele pede-nos que percamos o medo à dor, às tribulações, e O procuremos onde Ele nos espera: na Cruz.
Pároco: Pe. Alessandro Almeida Colen
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