Itagimirim / Bahia -

segunda-feira, 29 de março de 2010

Ramos e a Paixão

Estamos abrindo aquela semana que a Igreja chama de Semana Santa. Neste domingo evocam-se dois mistérios: a Entrada de Jesus em Jerusalém e sua Paixão. Por isso, este dia litúrgico é chamado de Domingo de Ramos e da Paixão.
A liturgia convida-nos a fixar o nosso olhar na glória de Cristo, Rei eterno para prepararmos a uma mais perfeita compreensão do valor da sua Paixão humilhante, caminho necessário para a exaltação suprema. Não se trata pois, de acompanhar Jesus no triunfo de uma hora, mas sim de O seguir até ao Calvário onde, morrendo na Cruz, triunfará para sempre do pecado e da morte.
Jesus faz a sua entrada em Jerusalém, como Messias, montado num burrinho, cumprindo a profecia de séculos antes (cf. Zac. 9,9); os cânticos do povo eram claramente messiânicos. Jesus,aceita a homenagem, e quando os fariseus, que também conheciam as profecias, tentaram sufocar aquelas manifestações de fé e alegria, o Senhor disse-lhes: “Eu vos declaro: se eles se calarem, as pedras gritarão” (Lc 19,40).
Hoje Jesus quer entrar triunfante na vida dos homens, sobre uma montanha humilde: quer que demos testemunho dele com a simplicidade do nosso trabalho bem feito, com a nossa alegria, com a nossa serenidade, com a nossa sincera preocupação pelos outros. Quer fazer-se presente em nós através das circunstâncias do viver humano. Também nós podemos dizer-lhe agora: Estou como um burrinho diante de Ti, Senhor…, como um burrinho de carga, e estarei sempre contigo. Podemos servir-nos destas palavras como uma jaculatória para o dia de hoje.
No cortejo que Jesus fazia, os Seus olhos depararam e contemplaram a cidade de Jerusalém. E ao contemplar aquele panorama, Jesus chorou
(cf. Lc 19,41).
Esse pranto, no meio de tantos gritos alegres e em tão solene entrada, deve ter sido completamente inesperado. Os discípulos devem ter ficado desconcertados. Tanta alegria que se quebrava subitamente, num instante!
Jesus vê como Jerusalém se afunda no pecado, na ignorância e na cegueira: “Oh! Se também tu, ao menos neste dia que te é dado, conhecesses o que te pode trazer a paz!… Mas não, isso está oculto aos teus olhos” (Lc 19,42). O Senhor vê como virão outros dias que já não serão como este, um dia de alegria e de salvação, mas de desgraça e ruína. Poucos anos mais tarde, a cidade será arrasada. Jesus chora a impenitência de Jerusalém. Como são eloqüentes estas lágrimas de Cristo! Cheio de misericórdia, compadece-se da cidade que o rejeita.
Vale a pena refletir nas inúmeras vezes que Jesus saiu ao nosso encontro, tantas graças ordinárias e extraordinárias derramou sobre a nossa vida!
A historia de cada homem é a historia da continua solicitude de Deus para com ele. Cada homem é objeto da predileção do Senhor e pode dizer como
S. Paulo;… “Ele me amou e se entregou por mim”. (Gál. 2,20).
Jesus tentou tudo com Jerusalém, e a cidade não quis abrir as portas à misericórdia. É o profundo mistério da liberdade humana, que tem a triste possibilidade de rejeitar a graça divina. “Homem livre, sujeita-te a uma voluntária servidão, para que Jesus não tenha que dizer por tua causa aquilo que contam ter dito, por causa de outros, à Santa Teresa: “ Teresa, Eu quis…, mas os homens não quiseram” (Caminho nº 761).
Nós sabemos agora que aquela entrada triunfal foi bastante efêmera para muitos. Os ramos verdes murcharam rapidamente. O hosana entusiástico transformou-se, cinco dias mais tarde, num grito furioso: Crucifica-o! Por que foi tão brusca a mudança, por que tanta inconsistência? Para podermos entender um pouco do que se passou, talvez tenhamos que consultar o nosso coração.
São Bernardo comenta: “Como eram diferentes umas vozes das outras! Fora, fora, crucifica-O e bendito o que vem em nome do Senhor, hosana nas alturas! Como são diferentes as vozes que agora o aclamam Rei de Israel e dentro de poucos dias dirão: Não temos outro rei além de César! Como são diferentes os ramos verdes e a Cruz, as flores e os espinhos! “Aquele a quem antes estendiam as próprias vestes, dali a pouco O despojavam das suas e as lançam a sorte sobre elas”.
A entrada triunfal de Jesus em Jerusalém pede-nos coerência e perseverança, aprofundamento na nossa fidelidade, para que os nossos propósitos não sejam luz que brilha momentaneamente e logo se apaga. Dentro do nosso coração há profundos contrastes: somos capazes do melhor e do pior: de amar e de odiar. Se queremos ter em nós a vida divina, triunfar com Cristo, temos de ser constantes e matar pela penitência, oração, jejum… o que nos afasta de Deus e nos impede de acompanhar o Senhor até a Cruz.
Maria também está em Jerusalém, perto do seu Filho, para celebrar a Páscoa: a última Páscoa judaica e a primeira Páscoa em que o seu Filho é o Sacerdote e a vítima. Não nos separemos de Maria. Nossa Senhora nos ensinará a ser constantes, a lutar sempre, a crescer continuamente no amor por Jesus. Permaneçamos a seu lado para contemplar com Ela a Paixão, a Morte e a Ressurreição do seu Filho.



Pároco: Pe. Alessandro Almeida Colen

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