O extremo do amor de Deus
O que nós celebramos hoje é o extremo do amor de Deus de uma maneira condensada. Na verdade, todos esses dias da Semana Santa são intensos em demonstrações do amor de Deus para conosco. A instituição da Eucaristia antecipa o que acontecerá amanhã, já que a Eucaristia é a atualização incruenta (sem derramamento de sangue) do sacrifício de Cristo realizado uma vez por todas na Cruz. Misteriosamente, porém, esse sacrifício é atualizado um dia antes, mostrando-nos assim que não é nenhum problema para o poder de Deus atualizá-lo depois, como acontece em todas as missas celebradas no mundo inteiro.
Há coisas que podem ser complicadas, por exemplo pode ser complicado saber quanto é 2+2. Logicamente, uma criança vai dizer que são 4. Mas se você perguntar a um engenheiro, ele poderá dizer que são 3,999989. Um físico diria que são 4,0004 ± 0,0006. Um matemático diria: “espere um pouco que eu já calculo. Mas, já consegui provar que há uma solução”. Um filósofo perguntaria: “o que quer dizer 2+2?”. Um lógico: “defina as características da operação “+” e eu poderei lhe responder”. Um advogado, depois de fechar a porta e a janela, quiçá perguntaria em voz baixa: “quanto você quer que seja o resultado?”
O que é a Eucaristia? Um mistério simples e profundo; nada fácil de explicar. Trata-se de um mistério porque não compreendemos tudo a respeito do que a Igreja chama “transubstanciação” – a conversão de toda a substância do pão no Corpo de Cristo e de toda a substância do vinho no Sangue de Cristo –, é ao mesmo tempo um mistério simples: Deus acessível a nós! A Eucaristia é o mistério da complexa simplicidade de Deus! Na solução do problema matemático ficou claro que a única resposta sensata é a da criança. Na presença de tão grande mistério é preciso que tenhamos a fé e a simplicidade da criança: o que é isso? o que é a Eucaristia? Resposta: o Corpo e o Sangue de Cristo.
São João é um apóstolo profundamente contemplativo. Ele detém-se a narrar as palavras do Senhor durante a última Ceia; não nos relata a instituição da Eucaristia, os outros três evangelistas já o fizeram. São João, esse discípulo jovem e apaixonado por Deus, lembra-nos que Jesus “tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1). Esse é o contexto da instituição da Eucaristia, da instituição do sacerdócio, do lava-pés. O amor de Jesus chamou tanto a atenção de João que anos mais tarde dirá aquelas belíssimas palavras que expressam quem é Deus: “Deus é amor” (1 Jo 4,6.16). Quem entendeu e experimentou algo desse amor divino pode dizer com o mesmo apóstolo: “Não há temor no amor; ao contrário, o perfeito amor lança fora o temor, porque o temor implica um castigo e o que teme não chegou à perfeição do amor. Quanto a nós, amemos, porque ele nos amou primeiro” (1 Jo 4,18-19).
Como Jesus amou-nos até o fim, até o extremo, amemos-lhe também. Jesus está esperando por você e por mim em cada Sacrário, no Sacrário da sua Paróquia, ele está aí para que dele nos aproximemos, para que possamos com ele dialogar. Ele quer dar-nos o seu amor e quer que nós o amemos também. Nós nem tínhamos pedido que o Senhor provasse o seu amor para conosco, mesmo assim ele o fez: morreu e ressuscitou, deixou-nos a Eucaristia, os demais Sacramentos, a Igreja etc.
O Senhor Jesus faz questão de deixar bem claro o que ele quer dizer. No capítulo sexto do evangelho segundo São João, o Senhor diz taxativamente: “Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós” (Jo 6,53). Encontramos um excelente texto paralelo nesta outra passagem de hoje: “Se eu não te lavar [os pés], não terás parte comigo” (Jo 13,8). Essas duas passagens nos mostram a profunda relação que há entre os sacramentos da Eucaristia, da Ordem sagrada e da Reconciliação. O sacerdote é ordenado principalmente para absolver os pecados, consagrar o corpo e o sangue do Senhor e pregar a Palavra de Deus; o ministro ordenado é sempre sacerdote, mas o é especialmente quando absolve e quando consagra. Para comermos o corpo do Senhor e bebermos o seu sangue e para sermos absolvidos dos nossos pecados é necessário que haja um sacerdote ordenado. Como é imenso o amor de Deus! Não apenas quis ficar perto de nós, quis ademais ficar dentro de nós, falando conosco, partilhando a sua vida conosco.
Na noite das traições, Jesus quis mostrar a sua fidelidade e o seu amor. Diante da debilidade e da maldade do ser humano, Jesus mostra a sua bondade. Ainda que Judas já tivesse o propósito de traí-lo, Jesus quis tratá-lo amigavelmente. Cristo manterá essa postura para com o traidor até no momento da traição, quando Judas o beijar. Jesus lava também os pés de Judas e gostaria de perdoá-lo. Jesus trata-nos com amizade, quer ser nosso Amigo, Mestre, Médico e Senhor. Nós o permitimos?
Voltemos os nossos olhares a Nossa Senhora. Onde Nossa Senhora estava quando Cristo instituiu a Eucaristia? Os santos Evangelhos não nos respondem; eu, porém, penso que ela não estava muito longe, mas ali por perto intuindo no seu coração de mãe que algo grande estava acontecendo, intuindo que essa seria uma noite diferente. Assim como Maria disse “faça-se” no momento da Encarnação, está preparada para dar a mesma resposta neste momento tão difícil. Que ela nos ajude para que, com uma fé gigante, possamos estar bem unidos acompanhando o Senhor em todos os momentos. Através das celebrações da Igreja nós participaremos com Nossa Senhora do Mistério Pascal do Senhor, antecipado e perpetuado nesta celebração de hoje.
Pároco: Pe. Alessandro Almeida Colen



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