Testemunhas da Ressurreição
Faz parte da nossa identidade cristã ter a certeza de que Cristo Ressuscitado está no meio de nós.
Na primeira leitura (At 5,27-41) vemos Pedro e os apóstolos diante do Sinédrio, o inimigo que levou Jesus à morte. Foram proibidos de falar em nome de Jesus. Porém, fortalecidos pelo Espírito Santo, não temem e não recuam. Responderam: “É preciso obedecer a Deus, antes que aos homens” (At, 29). Pedro repete novamente, com toda a franqueza, o anúncio da Ressurreição: “O Deus de nossos pais ressuscitou Jesus, a quem vós matastes pregando-O na Cruz” (At 5, 30). Acaba de sair da prisão com outros apóstolos, sabe que poderá ter que enfrentar piores dificuldades; mas não tem medo porque colocou já toda a sua confiança no Ressuscitado e compreendeu que tem de segui-Lo nas tribulações. Afirma Pedro: “Nós somos testemunhas destes fatos, nós é o Espírito Santo, que Deus concedeu àqueles que lhe obedecem” (At 5,3). Aí enfrentam riscos, porém transformam os riscos em realidades a serem submetidas à flagelação, mas tudo suportam com alegria “porque foram considerados dignos de injúrias, por causa do nome de Jesus” (At 5, 41). É este o testemunho que Jesus espera de cada um dos cristãos, um testemunho livre de respeitos humanos e também do medo aos riscos e perigos. A fé intrépida dos crentes convence o mundo, mais do que qualquer outra apologia.
No evangelho (Jo 21, 1-19) temos a aparição de Jesus Ressuscitado às margens do mar de Tiberíades. Lá está um grupo de apóstolos, por iniciativa de Pedro, vai pescar, mas nada apanham naquela noite. Ao amanhecer, Jesus encontra-se de pé na praia, sem que os discípulos o reconheçam. Jesus lhes pergunta se têm algo para comer. Não tendo, Jesus lhes disse: “Lançai a rede à direita do barco e achareis”. Sem reconhecê-lo, os discípulos lançam a rede e acontece aquela pesca maravilhosa: Então, é João, o discípulo amado quem reconhece Jesus: “É o Senhor!”
O relato descreve uma cena íntima do Senhor com os seus: “Passa ao lado dos seus apóstolos, junto daquelas almas que se lhe entregaram… E eles não se dão conta disso! Quantas vezes está Cristo, não perto de nós, mas dentro de nós, e temos uma vida tão humana! Recordam o que tinham ouvido tantas vezes dos lábios do Mestre: pescadores de homens!… E compreendem que tudo é possível, porque é Ele quem dirige a pesca. “Então aquele discípulo que Jesus amava disse a Pedro: “É o S enhor!” O amor vê. E de longe. O amor é o primeiro a captar aquela delicadeza. O apóstolo adolescente com o firme carinho que sentia por Jesus, pois amava Cristo com toda a pureza e toda a ternura de um coração que nunca se corrompera, exclamou: É o Senhor! Simão Pedro, mal ouviu dizer que era o Senhor, cingiu a túnica e lançou-se ao mar. Pedro é a fé. E lança-se ao mar, com uma audácia maravilhosa. Com o amor de João e a fé de Pedro, aonde podemos nós chegar!?”(S. Josemaria Escrivá, Amigos de Deus, nº 265-266).
No relato que mostra a aparição de Jesus fica refletida a profunda impressão que deve ter causado aos Apóstolos e a recordação íntima que dela guardava São João. Jesus manifesta depois da Ressurreição a mesma delicadeza que antes sempre teve durante a sua vida pública. Usa os meios materiais (brasas, peixes…), que põem em realce o realismo da sua presença e continuam a dar o tom familiar costumado na convivência com os discípulos. Os Santos Padres e Doutores da Igreja comentaram este episódio, em sentido místico: a barca é a Igreja cuja unidade está simbolizada pela rede que não se rompe; o mar é o mundo; Pedro na barca simboliza a suprema autoridade na Igreja; o número de peixes significa o número dos apóstolos escolhidos. Jesus Cristo tinha prometido a Pedro o primado da Igreja (Cf. Mt 16,16-19). Apesar das três negações do apóstolo durante a Paixão, confere-lhe agora o primado prometido. “Pedro tu me amas?” Três vezes Jesus perguntou, por três vezes Pedro responde: “ Senhor, tu sabes que te amo” A entrega do Primado a Pedro foi direta e imediata. O Primado é uma graça que é conferida a Pedro e aos seus sucessores, os Papas; é um dos elementos fundacionais da Igreja para guardar e proteger a sua unidade. Podemos, depois de dois mil anos, afirmar: Ontem Pedro, hoje Bento XVI!
São Pedro seguiu o seu mestre até morrer crucificado, de cabeça para baixo. Pedro e Paulo sofreram o martírio em Roma durante a perseguição de Nero aos cristãos, por volta dos anos 64 e 68.
Jesus termina dizendo: “Segue-me”. Esta palavra evocaria no Apóstolo o seu primeiro chamamento (Cf. Mt. 4,19) e as condições de entrega absoluta que o Senhor impões aos seus discípulos: “ Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua Cruz cada dia, e siga-Me” (Lc 9,23). O próprio Pedro deixa-nos o testemunho de que a exigência da Cruz é necessária para todo o cristão: “Pois para isto fostes chamados, já que também Cristo padeceu por vós, dando-vos exemplo, para que sigais os seus passos” (1 Pd 2,21).
Pároco: Pe. Alessandro Almeida Colen
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